E como eu estivesse muito interessada pelos próximos livros do tratado vitruviano (e isso é verdade), acabei por me deleitar e analisar exaustivamente cada parte, passando dois dias para compreendê-las. E achei justo também juntar informações dos livros terceiro e quarto, para que assim, não tenha que citar repetitivamente cada ordem ao caracterizá-la. Na sua conclusão sobre a arquitetura dos templos, Vitrúvio resume os tópicos que analisou como doutrinas sobre os tempos sagrados, distinção das ordens, comensurabilidades das suas proporções, disparidades dos planos. Na verdade sua análise foi muito além disso, falando de formas, cálculos e sobre as reações que as diferentes ordens e suas características causavam nas pessoas.
LIVRO III
Vitrúvio começa seu terceiro livro falando sobre a composição e sua relação com a comensurabilidade dos templos: a proporção consistindo na relação modular de uma parte dos membros em cada seção ou na totalidade da obra, a partir da qual se traça o sistema das comensurabilidades. Assim, como foi citado, igualmente acontece com as proporções do corpo humano. Quando fala sobre a relação da circunferência e do quadrado com o corpo humano explica a relação entre corpo humano e as ordens edificáveis de forma mais clara. "Os membros dos edifícios sagrados devem ter em cada uma das partes uma correspondência de medida muito comformemente, na globalidade, ao conjunto da magnitude total. (...) Igualmente, assim como o esquema da circunferência se executa no corpo, assim nele se encontra a figura do quadrado."
A ideia de um número perfeito, que existiu tanto na Grécia Antiga quanto em Roma em sua época, foi pensada a partir da percepção do corpo humano e parecia um sistema necessário em todas as obras. Para os gregos, o número perfeito instituído era o dez, ideia que também agradava Platão, pois tal número era obtido a partir das coisas singulares, chamadas pelos gregs de monades. Para os matemáticos, o número perfeito era o seis, porque contém repartições, que segundo suas contas, se ajustam a esse número. Para os romanos, era considerável perfeito também o número dez, mas depois, ao darem conta da perfeição tanto do número dez quanto do seis, resolveram somá-los e assim estabelecer como número perfeitíssimo o dezesseis.
As tipologias de templos, de acordo com seu alçado, eram: in antis ou naus en parastasin; depois prostilo, anfiprostilo, períptero, pseudodíptero, díptero e hipetro.
Apesar de lançar de uma só vez os tipos de templos e de suas distinções poderem ser feitas com poucas palavras, Vitrúvio se preocupa em explanar cada tipo pormenorizadamente. Resumindo:
In antis: com pilastras; naus en parastasin: templo com muros terminando em pilastras; prostylos: com colunas à frente; amphiprostylos: com colunas à frente e atrás; peripteros: com colunas em volta; pseudodípteros: de falsa ala dupla; dipteros: de ala dupla; hyphaethros: a céu aberto.
De acordo com os intercolúnios, a classificação dos templos era feita em cinco "espécies": picnostilo, ou seja, de colunas cerradas; sistilo, um pouco bastas; diastilo, mais abertas; areostilo, com colunas mais distanciadas do que convém; e eustilo, com uma justa distribuição de intervalos. Para as espécies picnostilo e sistilo, seguiam desvantagens quanto ao seu uso, pois os espaços entre as colunas eram insuficientes para a passagem das pessoas, e elas tinham que seguir em filas; além disso, também prejudicava a visão e a circulação dentro dos templos. Quanto ao templo diastilo, as dificuldades deviam-se ao fato de as arquitraves partirem-se por causa da magnitude dos intervalos das colunas. Nos areostilos, tem de se colocar traves de madeiras inteiriças, não de pedra. Para ele, o templo eustilo tinha disposição mais louvável e possuía uma lógica bem ordenada para o uso, aspecto e solidez.
Vitrúvio ainda cita Hermógenes e suas novas soluções na disposição dos templos que pouparam nas despesas e nos trabalhos e criaram uma nova forma de circulação em volta da cela.
Sobre a relação entre o diâmetro e a altura das colunas, entre os intercolúnios e a espessura dos fustes, o sistema de contraturas das colunas e suas êntases, descreve cada uma das espécies e fala sobre a aplicação das proporções.
Os fundamentos das construções eram escavados a partir do chão firme até o terreno sólido, preenchendo os espaços com concreto o mais consistente possível. Acima das fundações, eram construídas paredes com a mesma largura mais metade da espessura das colunas que ergueriam-se por cima; esses muros são chamados estereóbatas. Mas, se o chão firme não fosse encontrado pelo fato de o terreno ser de aluvião profundo ou paludoso, então escavava-se e drenava-se o local. Lançadas as fundações, eram dispostos os estilóbatas, sobre os quais colunas. Os degraus somados deveriam ser sempre ímpares, pois partindo da ideia que se sobe o primeiro degrau com o pé direito, também seria este a atingir a parte superior do templo primeiro. Concluídas essas coisas, colocavam-se as espiras das bases das colunas, que deviriam ter tanto de largura como de comprimento um de diâmetro e meio de coluna. Dispostas as espiras, eram colocadas com auxílio do fio de prumo, a partir da respectiva base, as colunas medianas do pronau e da parte posterior.
A partir daí, pode-se perceber uma preocupação de Vitrúvio em ser bastante descritivo quanto a disposição dos capitéis, volutas, espistílios, arquitraves e frisos, cornijas, frontões, entablamentos, gárgulas e inclusive, as estrias das colunas. Ele faz isso utilizando como exemplo os modelos jônicos, que vão ser explicados com mais detalhes no livro quarto. Além disso, a ordem primeira a surgir foi a dórica; a partir desta, nasceu a jônica e depois a coríntia. Reservei-me a descrevê-las, todas, nos comentários do próximo livro.
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