Este blog foi criado com o objetivo de compartilhar ideias e conhecimento com você, que costuma passar por aqui. Portanto, sinta-se à vontade para postar comentários e me ajudar a melhorar o conteúdo desta página. Aqui os posts sobre arquitetura e urbanismo predominarão, mas assuntos frequentes sobre história, música e fotografia poderão aparecer... E além disso, pretendo compartilhar algumas experiências em eventos acadêmicos, viagens e afins. Obrigada.

@jessicarossone

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tratado De Architectura I

                Como quem deseja causar boas primeiras impressões, procurei começar inevitavelmente pelo começo. E, disposta a discutir conceitos, e se preciso, mudá-los, escolhi ninguém menos que Vivtrúvio: engenheiro militar e arquiteto que viveu, como ele mesmo diz: "no tempo de Augusto". Na verdade, não se pode afirmar em que data Vitrúvio nasceu nem faleceu, e nem ao menos seu nome completo. Nossas únicas informações sobre ele estão neste livro que vamos comentar.
                Tal sua obra intitulada De Architectura, atualmente traduzida para vários países, é o primeiro livro que se tem notícia que fala sobre a tratadística arquitetônica antiga. O tratado que é constituído por uma coleção de 10 livros foi descoberto em 1414 e a partir daí passou a servir como interlocutor não só para arquitetos, mas também para músicos, pintores e escultores, do que se passara na antiguidade clássica. Abaixo o Homem Vitruviano, desenho feito por Leonardo Da Vinci, baseado em textos vitruvianos. 


LIVRO I

Preocupado em falar sobre o ofício do arquiteto e sobre as características dessa arte, Vitrúvio ocupa todo o primeiro livro com tais assuntos, acrescentando informações sobre as cidades fortificadas e sobre as muralhas, quesito imprescindível para a defesa das cidades naquela época.

     Para Vitrúvio, a ciência do arquiteto agrupa muitas disciplinas e saberes, estando presente em todas as obras de outras artes. Nasce da prática, que resulta da criação contínua e experiêcia; e da teoria, que é aquilo que pode explicar as coisas criadas. Para ele, a teoria e a prática são dependentes entre si para que haja um bom profissional. O significado e o significante se encontram também na arquitetura, como em tantas outras artes e fazem parte da conceituação da profissão, na qual ele diz: "Convém que ele seja engenhoso e hábil para a disciplina; de fato, nem o engenho sem a disciplina nem esta sem aquele podem criar um artista perfeito." O arquiteto então, deveria ter conhecimentos de literatura, desenho gráfico, geometria, história, filisofia, música, medicina, direito e também de astronomia. Deveria dispor de conhecimentos musicais para dominar as leis harmônicas e matemáticas, e além disso, efetuar os cálculos de direcionamento de balistas, catapultas e escorpiões (três máquinas de guerras, descritas em outro livro do mesmo tratado).
     Quando se trata de quem deveria ser arquiteto, Vitrúvio defende que arquitetos não deveriam ser formados de uma hora para outra. Arquitetos deveriam ser aqueles que desde crianças foram insentivados à arte e subiram seus correspondentes degraus até que "atingissem o altíssimo templo da arquitetura". Na formação do arquiteto, não se deve surpreender que a natureza permita conhecer tão grande número de doutrinas, mas compreender que estas estão interligadas, e por isso, é possível que a memória as contenha.
Na verdade, o arquiteto deve abranger uma cultural geral, ou seja, não deve ser tão músico como Mozart, mas também não deve desconhecer totalmente a música. E então, é o momento em que Vitrúvio chega a uma conclusão: a impossibilidade de atingir a perfeição.

                                    "E assim, como como os arquitetos não podem exercer um perfeito domínio em todas as coisas, também nenhum daqueles que individualmente adquirem especializações entre as outras artes consegue atingir o sumo principado do louvor."


     Em suas definições de arquitetura, Vitrúvio diz de ordenação, disposição, euritmia, comensurabilidade, decoro e distribuição. A ordenação define-se como a justa proporção das partes da obra; a disposição como a colocação adequada das coisas e o efeito estético da obra;  a euritmia corresponde à forma exterior elegante, compreendendo as relações de proporção entre altura,  largura e comprimento; a comensurabilidade consiste no conveniente equilíbrio entre os membros da própria obra e na correspondência de uma determinada parte; o decoro é o aspecto irrepreensível das obras, dispostas com autoridade através de coisas provadas, de costume, ou então naturalmente; a distribuição é a repartição apropriada dos meios o do solo, como um equilíbiro econômico nas despesas da obra.

     Para ele, a arquitetura se divide em três partes iguais. São elas: a edificação (recintos fortificados e públicos), a gnomônica (levantamento dos edifícios privados) e a mecânica. Segundo ele, essas coisas deveriam ser realizadas de modo a que se tenham presentes os princípios de solidez, funcionalidade e beleza (firmitas, utilitas e venustas). O princípio de solidez estará presente quando for feita a escavação dos fundamentos até o chão firme;  o da funcionalidade, por sua vez, estará presente quando houver a adequação do uso dos solos; e o de beleza, será atingido quando o aspecto da obra for agradável e elegante e houver comensurabilidade.
   No que diz respeito às cidades, Vitrúvio preocupou-se em mostrar como se faz a escolha dos lugares para a instalação, destacando a importância de conhecer as pastagens e os animais, uma estratégia para saber se o lugar é propício ou não para a caça, agricultura, extração e se o clima é o ideal para o ser humano. A partir dessas observações e também do terreno, que deveria facilitar a defesa e a construção de muralhas, era possível escolher o lugar. Para ele, o lugar deveria ser o mais saudável possível, evitando-se os pântanos e evidenciando um "quadrante" temperado, ou seja, nem quente nem frio. Fala também sobre a construção das muralhas, das torres e sua proteção, fossos e alicerces. Sobre os materiais, faz questão de dizer que não deveriam ser definidos de antemão, pois não dispomos dos recursos que desejamos. Logo, os materiais utilizados seriam aqueles que estivessem disponíveis, assim como acontece em alguns lugares atualmente, devido a preço, oferta ou a qualidade oferecida.
   Sobre a distribuição das praças e das ruas, Vitrúvio analisa pormenorizadamente os ventos e seus sentidos. Estuda a sua natureza e sua influência na saúde da população, para a partir daí definir o traçado das ruas e praças. Propõe então orientações diferentes das ruas e ventos. Devemos perceber, que já na antiguidade se começava a pensar em técnicas de conforto ambiental e métodos para driblar fenômenos naturais e garantir saúde e conforto para a população.
   Ainda dentro dos estudos da cidade, Vitrúvio antecipa sua discussão sobre os templos e diz que eles deveriam estar em lugares adequados aos sacrifícios.

"Um lugar onde ninguém vá com frequência, a não ser quando necessário para o sacrifício; esse lugar deverá ser honrado com piedosa pureza de costumes."


                     E assim, Vitrúvio termina o primeiro livro, prometendo mais explicações sobre os templos nos livros 3 e 4, em que o assunto será tratado como principal. Podemos levantar questões de vários assuntos desta leitura, dentre eles, como as questões arquitetônicas não mudaram muito desde aquele tempo até os dias atuais. Na verdade, sempre houve preocupação com a segurança, com o conforto e com a organização das cidades propostos pela arquitetura e pelo urbanismo também, por que não? Vale a pena constatar, que com o passar dos anos, surgiram novas questões e mudanças, tanto climáticas quanto sociais, que dificultaram ainda mais o trabalho do arquiteto, e talvez até o tenha tornado mais importante do que já era. Mas ainda precisamos avançar e aprofundar pesquisas em tais campos para que daqui a algum tempo não seja tarde demais. Os problemas das grandes cidades estão aí. Sempre estiveram. Cabe a nós projetar SOLUÇÕES EFICAZES para que mesmo que o problema volte, ele seja estancado logo no seu início.


"Quando eu pensava que sabia todas as respostas, veio a vida e mudou todas as perguntas."




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