Neste quinto livro, quis Vitruvio falar essencialmente de obras públicas e o que desrespeito às suas utilidades. Pensei que os dois últimos livros fossem ser os mais interessantes para mim, mas vejo que me enganei, pois os comentários a respeito da música, no capítulo sobre a construção dos teatros, me conquistaram muito mais do que os livros dedicados aos templos.
LIVRO V
Primeiramente, Vitrúvio trata dos foros e as diferenças entre os da Grécia comparados com os de Roma. Na Grécia, os foros eram dispostos em quadrados com pórticos duplos e colunas cerradas, mas em Roma não deveriam ser feitos desse modo, pois a sua utilização era diferente, visto que se realizavam jogos de gladiadores nestes locais. As dimensões deveriam levar em conta a quantidade de habitantes, a fim de que não parecesse nem pequeno nem largo demais para a população, e a sua planta deveria ser feita de modo oblongo, sendo assim a sua disposição útil para a realização de espetáculos. As colunas superiores deveriam ser a quarta parte menores que as inferiores, para que pudessem ser suportadas. Para o melhor entendimento, faz um paralelo com a estrutura das árvores: "Se a natureza dispõe assim com as plantas, será igualmente lógico que o que está por cima deverá ser mais diminuído em altura e em espessura do que o que está embaixo."
As basílicas deveriam estar em locais juntos aos foros e nas partes mais quentes, para que no inverno os comerciantes não sejam incomodados devido ao mau tempo. As colunas deveriam ter uma altura igual à largura dos pórticos e o parapeitos entre as colunas superiores e inferiores não poderiam ter menos de um quarto que a altura das primeiras, para que os que passasem não fossem vistos pelos comerciantes. Espitílios, frisos e cornijas acompanhariam as proporções das colunas. A nave coberta central deveria contar com cento e vinte pés de comprimento por sessenta de largura. O tribunal também se encontrava nas basílicas, porém num espaço mais reservado. Para Vitrúvio, resultaria num resultado agradável a dupla exposição dos telhados, a alta nave interior, além das próprias colunas subindo uniformemente em altura até o travejamento desta, acrescentando suntuosidade e grandeza à obra.
O erário, o cárcere e a cúria deveriam estar ligados ao foro e serem proporcionais a este. A cúria, construída de acordo com a dignidade do município, deveria ter suas paredes circundadas por cornijas de madeira, de modo que a voz dos que participavam dos debates fosse entendida pelos ouvintes.
Para o teatro deveria ser escolhido o lugar mais saudável possível, que evitasse a exposição excessiva ao sol. A construção nos montes era a mais indicada, mas se houvesse a necessidade de se construir em locais planos, alicerces e fundações semelhantes as dos templos deveriam ser feitos. Sobre os fundamentos e a partir dos muros intermediários deveriam ser colocados os degraus ou assentos. Os muretes deveriam ser distribuídos proporcionalmente à altura dos teatros, para que a voz não fosse impedida. Além de todos estes cuidados, obviamente o local deveria possuir boa acústica, ou seja, não deveria haver ressonância. "Pois a voz é como um sopro flutuante do ar que ser torna in actu sensível ao ouvido. Move-se através de infinitos círculos concêntricos, como se, lançada uma pedra na água imóvel, nascessem das ondas inumeráveis círculos aumentando a partir do centro, máximo possível, e espalhando-se, a não ser que o impeça a estreiteza do lugar ou outro obstáculo que não deixe os traçados daquelas ondas encontrarem uma saída. (...) Do mesmo modo, assim se movimenta a voz em círculos, mas se na água estes se movem planamente, a voz progride em amplitude e sobe gradualmente em altura."
Percebendo a necessidade de explicações maiores sobre a música para seus leitores, Vitrúvio reserva o capítulo quatro de seu livro para esplanar qualquer dúvida sobre harmonia, modulações musicais, tons e semitons, escalas e acordes. Para explicar sobre o tema, Vitrúvio se baseia nos escritos de Aristoxeno e dispõe em seu livro um diagrama feito pelo próprio Aristoxeno. Infelizmente este diagrama e nenhum dos desenhos de Vitrúvio jamais foram encontrados.
Voz contínua, voz descontínua
De acordo com suas transformações, a voz ora se torna aguda, ora se torna grave. E transforma-se de duas maneiras, quer de modo contínuo, quer de modo descontínuo. A voz contínua não se interrompe nas pausas nem em outras circusntâncias, sendo as interrupções imperceptíveis e mal se notando os intervalos. No modo descontínuo, verifica-se o contrário, há uma contínua modulação que se torna constante ao sentido da audição, como acontece nas canções, e assim, há uma flexão de voz que fica obscurecida pelos intervalos.
As modulações harmônica, cromática e diatônica
São três gêneros de modulações. A modulação harmônica é concebida como arte. A cromática provoca um deleite mais suave, pela frequência das variações. A diatônica é a mais fácil, graças à distância dos intervalos. Nas três modulações são diferentes as disposições dos tetracórdios, apesar de nas três eles serem compostos de dois tons e um semitom. No entanto, em escalas isoladas, os intervalos são dispostos de modo diferente.
Nomes gregos dos sons
Os sons, para os gregos eram dezoito por gênero, dos quais oito pertenciam continuamente a três espécies e o restante eram sujeitos a modulação. Os oito primeiros eram designados desde "Gravíssimo" ate "O último dos agudos". Os dez sons que se movem dão origem a uma tríplice variedade de modulações, por causa das transferências das escalas.
Os tetracórdios
Os tetracórdios são cinco: o primeiro é o mais grave, denominado em grego hypaton. O segundo, que é o do meio, é chamado meson. O terceiro é conexo, porque se diz synhemmenon. O quarto é desconexo, chamado diezeugmenon. O quinto, o mais agudo, é chamado hyperbolaeon.
Os acordes
Os acordes, que em grego se chamam symphoniae, são seis. São formados pela conjugação dos sons.
Feitas as apresentações dos termos musicais e introduzido o assunto, Vitrúvio fala sobre o uso destes conhecimentos para a colocação das caixas de ressonância no teatro.
Utilizando-se de cálculos matemáticos, deveriam ser contruídos vasos de bronze proporcionalmente à grandeza do teatro. Deveriam ser fabricados de modo que, se tocados, produzissem todos os sons entre si. em seguida, deveriam ser construídas celas entre os assentos, onde os vasos seriam colocados segundo uma disposição musical. A distribuição das caixas de ressonância nos teatros maiores seria feira segundo a escala harmônica. Os teatros menores, de madeira, tinham vários entablamentos que por si só ressoavam, não necessitando, assim, do artifício dos vasos de bronze. Em algumas cidades pequenas da época, arquitetos e engenheiros utilizaram também vasos de cerâmica, conseguindo ótimos efeitos. Para uma boa acústica os lugares consonantes eram considerados ideais para Vitruvio, pois nestes lugares, a voz auxiliada desde baixo e subindo, tomando progressivamente o corpo, atinge os ouvidos bem articulada na clareza das palavras.
A planta do teatro deveria ser elaborada a partir do perímetro da base, por onde seria traçada uma linha circular a partir do centro e se inscreveriam quatro triângulos de lados iguais. Desses triângulos, aquele cujo lado estiver mais próximo da cena determinará o lugar da fronte da cena. Desse modo o palco seria mais amplo do que aqueles dos teatros gregos.
Para Vitrúvio, era evidente que nem todos os teatros, talvez a maioria deles, não pudesse corresponder a todas as regras, mas era imprescindível que o arquiteto considerasse as proporções que eram necessárias seguir para alcançar a comensurabilidade e como adaptá-las à natureza do local ou às dimensões da obra. A seguir, ele ainda fala dos pórticos atrás do teatro e que estes deveriam ser duplos. Sobre as colunas, explica que deveriam apresentar simplicidade, ao contrário das dos templos. Fala também sobre os jardins e passeios descobertos e sua importância por serem lugares altamente salubres. Ainda trata dos banhos, das palestras e dos portos, aprofundando em cada um desses assuntos e mostrando sua preocupação em deixar claras algumas regras.
Nestas palavras encontramos a confirmação de que a preocupação com a salubridade das cidades existia nesta época, e mais, percebemos que os conceitos utilizados por Vitrúvio estariam presentes, mais tarde, em muitos planos de cidade elaborados no século XIX e XX.
"...penso não haver qualquer dúvida na conveniência que há em construir nas cidades passeios descobertos, a céu aberto, amplos nas suas dimensões e com muitos espaços verdes."
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