Este blog foi criado com o objetivo de compartilhar ideias e conhecimento com você, que costuma passar por aqui. Portanto, sinta-se à vontade para postar comentários e me ajudar a melhorar o conteúdo desta página. Aqui os posts sobre arquitetura e urbanismo predominarão, mas assuntos frequentes sobre história, música e fotografia poderão aparecer... E além disso, pretendo compartilhar algumas experiências em eventos acadêmicos, viagens e afins. Obrigada.

@jessicarossone

sexta-feira, 1 de julho de 2011

"O Gótico e o Barroco como expressões arquitetônicas privilegiadas da arte sacra"


"O Gótico  e o Barroco como expressões arquitetônicas privilegiadas da arte sacra" foi o tema de um minicurso ministrado pelo Prof. Dr. João Henrique dos Santos, do Departemento de História e Teoria da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro durante um Simpósio da  Associação Brasileira de História das Religiões na Universidade Federal de Juiz de Fora.

O minicurso discutiu desde as premissas da arte sacra até o estilo barroco, evidenciando expoentes nacionais, passando pelos estilos paleocristão e românico.


O Gótico

Arquitetura gótica é um estilo arquitetónico que segundo pesquisas, é evolução da arquitetura românica e precede a arquitetura renascentista. Foi desenvolvido na França em pleno período medieval, onde originalmente se chamava "Obra Francesa" (Opus Francigenum). O termo “gótico” só apareceu no final do Renascimento como um insulto estilístico.

Com o gótico, a arquitetura ocidental atingiu um dos pontos culminantes da arquitetura pura. As abóbadas cada vez mais elevadas e maiores, não apoiavam-se em muros e paredes compactas e sim sobre pilastras ou feixes de colunas. Uma série de suportes que eram constituídos por arcobotantes e contrafortes possuía a função de equilibrar de modo externo o peso excessivo das abóbadas. Desta forma, imensas paredes espessas foram excluídas dos edifícios de gênero gótico e foram substituídas por vitrais e rosáceas que iluminavam o ambiente interno.

O estilo gótico ficou marcado em muitas catedrais europeias, entre elas a de Notre-Dame, Chartres, Colônia e Amiens. Muitas catedrais góticas caracterizam-se pelo verticalismo e majestade, denominando-se durante a Idade Média, como supremacia e influência para a população.


Notre Dame de Paris em março/2014



O Barroco

A arquitetura barroca é o estilo arquitetônico praticado durante o período que se inicia a partir do século XVII e decorre até a primeira metade do século XVIII. A palavra portuguesa “barroco” define uma pérola de formato irregular.

O barroco é libertação espacial, é libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar. É libertação da simetria e da antítese entre espaço interior e exterior. Por essa ser a vontade, de libertação, o barroco assume um significado do estado psicológico de liberdade e de uma atitude criativa liberta de preconceitos intelectuais e formais. É a separação da realidade artística do maneirismo. A arquitetura barroca ocorreu principalmente em países católicos da Europa como Itália, Áustria, Espanha e Portugal.

A arquitetura barroca é caracterizada pela complexidade na construção do espaço e pela busca de efeitos impactantes e teatrais, uma preferência por plantas axiais ou centralizadas, pelo uso de contrastes entre cheios e vazios, entre formas convexas e côncavas, pela exploração de efeitos dramáticos de luz e sombra, e pela integração entre a arquitetura e a pintura, a escultura e as artes decorativas em geral. Em termos artísticos, o barroco vai utilizar a escala como valor plástico de primeira grandeza. Os efeitos volumétricos são também elementos essenciais na arquitetura barroca.

O exemplo precursor da arquitetura barroca geralmente é apontado na Igreja de Jesus em Roma, cujo projeto foi de Giacomo Vignola, e a fachada e a cúpula de Giacomo della Porta. Vignola partiu de modelos clássicos estabelecidos pelo Renascimento, que por sua vez se inspiraram na tradição arquitetônica da Grécia e da Roma antigas. As diferenças introduzidas por ele foram a supressão do transepto, a ênfase na axialidade e o encurtamento da nave, e procurou obter uma acústica interna eficaz.

A fachada se tornou um modelo para as gerações futuras de igrejas jesuítas, com pilastras duplas sustentando um frontão no primeiro nível, e um outro frontão, maior, coroando toda a composição. O interior era originalmente despojado, e seu aspecto atual é resultado de decorações no final do século XVII, destacando-se um grande painel pintado no teto com o recurso da arquitetura ilusionística.


Chiesa di Gesú em fevereiro/2014

As discussões foram além do Gótico e do Barroco, com citações de cunho social e histórico, com discussões sobre o nosso país e nossa realidade sobre os temas.

Principais expoentes da arquitetura barroca:

"Francesco Borromini, que entre muitas obras construiu em Roma o San Carlo alle Quattro Fontane. Surge aí a associação entre elementos retos e elementos curvos, utilizando formas ambivalentes. A fachada é visualmente dinâmica, o que não deixa os espectadores parados. Exibe uma complexidade em termos de organização, côncava, convexa e retas; é este dinamismo que o barroco impõe. Cria-se um portal monumental, que joga com várias formas, desloca-se o sino para a zona da fonte, em vez da zona central, destacando assim também a importância da fonte, como elemento criativo e funcional integrado na arquitectura. Borromini foi ainda o autor de igreja de Sant'Agnese in Agone, na Piazza Navona, e de Sant'Andrea delle Fratte, ambas em Roma.
Gian Lorenzo Bernini, um dos pioneiros da arte barroca, juntamente com seu rival Francesco Borromini. Bernini é autor de inúmeras obras célebres, entre as quais se destaca o baldaquino da basílica de São Pedro em Roma. Por encomenda do cardeal Borghese, realizou várias obras num estilo independente que representava uma reação contra os conceitos da estatuária renascentista então em voga. Matteo Barberini, eleito papa em 1623 com o nome de Urbano VIII, foi o maior patrono de Bernini. Durante seu pontificado, o artista criou o baldaquino de São Pedro (1624), as fachadas da igreja de Santa Bibiana e do palácio Propaganda Fide (1627), o projeto dos campanários da basílica de São Pedro. Em 1644 morreu Urbano VIII, que foi sucedido por Inocêncio X. Bernini perdeu seu privilegiado lugar no Vaticano para o rival Borromini. Estava então trabalhando no grupo “A verdade descoberta pelo tempo”, em alusão à injustiça das perseguições que lhe foram movidas, mas que ficou inacabado. Em 1647 Bernini completou, na capela Cornaro da igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma, o “Êxtase de santa Teresa”, um dos pontos altos da escultura barroca. Pouco depois reconciliou-se com o novo papa, que lhe encomendou a “Fonte dos quatro rios” , peça central da Piazza Navona, também em Roma. Em 1656, já no pontificado de Alexandre VII, projetou a colunata da praça de San Pietro, a igreja de Sant'Andrea al Quirinale e a escada régia do Vaticano. Em seus últimos anos Bernini restaurou a ponte do castelo de Sant'Angelo, para a qual criou uma série de anjos amargos e dolentes. Bernini foi durante mais de dois séculos desprezado pelos acadêmicos e classicistas e considerado o melhor exemplo do mau gosto e da monstruosidade artística. Com a reabilitação do estilo barroco no século XX, voltou a ser reconhecido como um dos maiores escultores e arquitetos de todos os tempos.

Na arquitetura barroca foi importante a observação de proporções geométricas definidas, como a Seção Áurea (φ=1,618) e a Sequência de Fibonacci (1,1,2,3,5,8...), uma vez que a teoria da arquitetura estava permeada de concepções que a relacionavam com a estrutura do universo. Acreditava-se que o cosmos fosse estruturado por proporções matemáticas, que a Terra e os outros planetas se moviam dentro de molduras concêntricas cristalinas, invisíveis e impalpáveis, mas não obstante reais, que deveriam ser imitadas na construção dos edifícios e no planejamento urbano, refletindo também a ideologia do Estado centralizado."
Irei postar aqui algumas partes interessantes e pontuais no minicurso e também imagens.