Neste sexto livro, Vitrúvio trata basicamente dos edifícios privados. Mas faz uma introdução um tanto quanto longa e precisa. Fala sobre o valor do conhecimento, a importância da educação e a honestidade do arquiteto. "A educação, conjugada com a força do ânimo, jamais se extingue, antes permanece estável até o fim da vida." São realmente questões envolvidas quando pensamos em um projeto privado, pois para o privado as regras são exponencialmente menores e a liberdade de criação maior. Logo, a arquitetura privada exige, acima de tudo, a honestidade do profissional. "mais vale ser solicitado do que importunar, porque um semblante honesto cora de vergonha quando pede algo duvidoso. Com efeito, os que dão o benefício é que são solicitados, não os que recebem."
LIVRO VI
Os edifícios privados deveriam estar adaptados ao ambiente geográfico e as várias tipologias de edificações deveriam ser levantadas de maneiras diferentes em cada lugar. Nas regiões setentrionais, por exemplo, era conveniente que os edifícios fossem construídos abobadados, resguardados ao máximo, e não expostos, voltados para as áreas mais quentes. Para Virúvio, o ambiente geográfico influencia no aspecto físico e inclusive na voz das pessoas, influenciando assim, também nas edificações. Os povos do norte, onde as regiões são frias e há bastante umidade, têm grande porte físico, cores brancas, cabelo liso e ruivo, olhos esverdeados e "muito sangue". Já os povos do sul, que se encontram mais próximos do meridiano e sujeitos ao curso do Sol, têm corpos pequenos, cor escura, cabelo crespo, olhos negros, pernas vigorosas e "pouco sangue". A relação da voz com a umidade se explica da seguinte forma: os sons se tornam mais graves a partir dos locais úmidos da natureza e mais agudos a partir dos quentes. Vitrúvio ainda fala sobre a conquista do Império Romano e sua relação com a localização geográfica, que para ele, Roma era o "centro do mundo" e por isso, seus habitantes possuíam uma dose equilibrada de inteligência e força. Na verdade, é conveniente que os edifícios sejam dispostos de acordo com as características das nações. Tratava-se de um pensamento primitivo de sociedade e arquitetura e suas relações.
Uma vez constituído o sistema de medidas e esplanadas as modulações, a realização do edifício deveria levar em conta a natureza, no que diz respeito ao uso e ao aspecto exterior. Para o arquiteto, o edifício surge com diferentes visões, ele tem diferentes aparências se observado de perto ou de longe, ou de um ambiente fechado, por exemplo. Por isso, não se deve ter dúvidas se for necessário fazer cortes ou aumentos, conforme a natureza do lugar, mas deve-se lembrar de, em primeiro lugar, estabelecer-se o sistema de medidas, ter em vista o decoro para que a visão da euritmia não seja duvidosa para os observadores.
Eram cinco os tipos de átrios para as casas urbanas: toscano; coríntio, com mais de quatro colunas; tetrastilo, com quatro colunas; displuviado, em que a inclinação do telhado se encontra direcionada para o exterior e não para o interior do átrio; e o testudinado, que era coberto. Proporcionais ao tamanho do átrio, colocam-se as alas, o tablino, as portas, as fauces e o complúvio. Os peristilos deveriam ser dispostos transversalmente um terço mais longos do que largos. As colunas serão tão altas quanto a largura dos pórticos e dos peristilos.
Os triclínios (salas de refeição) deveriam ter de comprimento o dobro da sua largura; as pinacotecas e as salas deveriam ser amplas. As salas cizicenas deveriam apresentar aberturas de janelas duplas, de modo que os jardins pudessem ser vistos.
As partes privadas da casa deveriam ser compartimentadas de acordo com normas, como no caso dos cubículos, triclínios, banhos e outros com a mesma funcionalidade. As partes comuns deveriam ser de fácil acesso, como os vestíbulos, os átrios, os peristilos e outros espaços com mesmo uso.
A casa deveria ser apropriada à função e estatuto do proprietário, por exemplo, as casas dos capitalistas e publicanos deveriam ser mais funcionais, pomposas e protegidas em relação a assaltos.
Nas construções rurais, as vilas deveriam ser construídas tendo em conta a exposição solar, principalmente por causa das plantações e dos animais. Vitrúvio também fala da colocação dos banhos, adegas, lagares, celeiros, currais e cavalariças e manjedouras.
Vitrúvio compara a colocação de iluminação natural nas vilas e nas casas urbanas. Nas primeiras considera mais facilidade do que nas segundas por causa da proximidade dos muros.
Em seguida, faz como fez no livro anterior, e fala sobre os edifícios privados gregos. Destaca na casa grega o gineceu, parte da casa destinada às mulheres e à família; o ândron, parte da casa destinada aos homens; as instalações dos hóspedes; e por fim faz uma comparação com a casa romana.
No capítulo seguinte fala sobre a solidez dos edifícios, com soluções parecidas e às vezes iguais às mencionadas nos livros anteriores.
Relação proprietário-artista-arquiteto
"Não está nas mãos do arquiteto definir quais os gêneros de materiais que convém utilizar, porque não se produzem todos os tipos de materiais em todos os lugares."
Atualmente, está sim, nas mãos do arquiteto a escolha de materiais, incluindo pesquisas para saber o custo, a qualidade e a oferta de todos os produtos; além disso, o arquiteto deve estar sempre atualizado pois o mercado de materiais se expande a cada dia com a descoberta de novas tecnologias.
Diferença entre o leigo e o arquiteto
"O leigo não pode saber o que vai ser realizado, a não ser quando o vir concluído, ao passo que o arquiteto já tem definido na sua mente, antes de iniciar a obra, como será construída em termos de beleza, funcionalidade e conveniência."
A fim de diminuir tais diferenças, os arquitetos usam de artifícios gráficos para demonstrar aos clientes as ideias que tiveram. Tais artifícios podem ser de croquis até desenhos feitos em computador, utilizando tecnologias avançadas que permitem criar ambientes muito parecidos com os reais.
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