No sétimo livro, este que tratarei agora, Vitrúvio fala dos acabamentos. Beleza e solidez aliadas para fazer com que os edifícios respeitassem seus partidos de comensurabilidade, euritmia e, neste caso, principalmente de decoro. Nos próximos livros tratará de questões sobre a água, gnomônica e sobre as máquinas, sendo então este, o último livro que tem ligação direta com a arquitetura como é estudada atualmente. O estudo das águas, da astronomia e das máquinas como foi feito nos livros oito, nove e dez será aqui somente esboçado, retirando-se apenas o que for de suma importância para o entendimento de como eram vistas e feitas as construções na Antiguidade Clássica.
LIVRO VII
Na preparação dos pavimentos, primeiro assunto abordado por Vitrúvio, ele ressalta que para este tipo de revestimento a argamassa era a que ocupava o primeiro lugar, de modo a haver maior preocupação com a solidez. Primeiro era verificado se o solo se encontrava todo compacto e só então era nivelado e espalhado o cascalho (pedras miúdas). Se por acaso o solo não for de seu todo sólido, será batido cuidadosamente com maços até que se torne. Depois, construíam-se os tabulados que sustentam os pavimentos, levando-se em conta a preferência por madeira de carvalho-ésculo. Em cima, era espalhado um leito de pedras médias para receber o cascalho argamassado, também compactado com batimentos contínuos. Após a compactação era aplicado um núcleo de três partes de tijolo cozido moído para uma de cal e só depois de colocado esse núcleo, eram dispostos os pavimentos em placas ou em mosaico. Depois de dispostos, os pavimentos eram polidos, de modo que não demonstrassem desnivelamentos, e recebiam pó de mármore e uma camada protetora de cal e areia. Para construções ao ar livre eram necessários reforços, tendo em vista que nos madeiramentos se originariam falhas ao longo do tempo.
Para o revestimento de lacunários, a madeira da parte superior do teto deveria ser revestida por uma mistura de areia e cal, a fim de que, se caíssem algumas gotas de água dos telhados elas ficassem ali cingidas. Dispostas e entrelaçadas as cofragens e rebocado o seu interior, juntava-se areia, completando com greda ou mármore.
No acabamento das paredes, completadas as cornijas, o reboco deveria ser o mais áspero possível, para que sobre eles fossem passadas algumas demãos de areia até atingir o nivelamento. Secando, lançava-se mais duas camadas para que a mistura de cal e areia fosse o mais compacta possível, só assim resistiria ao tempo. O uso do pó de mármore era feitos após todos os processos mencionados acima.
Depois de feitas todas as camadas e passado o pó de mármore, a técnica do fresco permitia que depois de pintadas as paredes difundissem nítidos esplendores, devido ao material usado no acabamento, no caso o mármore.
Em lugares úmidos, a preparação de rebocos deveria prosseguir diferente da anterior. Em primeiro lugar, ao invés da areia era utilizada cerâmica de construção moída. Se alguma parede se apresentasse de todo umidecida, levantava-se outra menos espessa e um pouco mais à frente. A parede deveria ser revestida e consolidada também com cerâmica de construção moída e só então era feito o revestimento.
As tipologias decorativas deveriam estar de acordo com a conveniência e não mostrarem-se alheias aos diferentes estilos, por isso os pavimentos e os revestimentos deveriam ser de acordo com o ambiente e com as atividades ali realizadas.
Em princípios instituídos pelos antigos a pintura apresentava imagens e imitações das figuras dos edifícios, além de lugares ao ar livre como litorais, rios e fontes. No entanto, na contemporaneidade de Vitrúvio esses princípios já não eram mais utilizados e inclusive eram considerados de mau gosto.
Depois instituídos os principais modos de revestimento utilizados na sua época, Vitrúvio se preocupa em explicar os materiais utilizados e como eles eram conseguidos e fabricados.
O pó de mármore não surgia com as mesmas características em todos os lugares. Em alguns lugares eram conseguidos em blocos utilizando grãos translúcidos como sal. Em outros, lascas desperdiçadas eram moídas e passadas ao crivo nas obras. Em outros locais o pó já era encontrado pronto, sendo até mais fino do que o feito à mão. No que se refere à cor, algumas surgiam espontaneamente e outras eram conseguidas a partir de outros elementos, através de certos processos ou misturas.
Pigmentos naturais eram e são encontrados em muitos lugares e em várias cores. Eram obtidos a partir da escavação de terras pigmentos vermelhos, brancos, verdes, vermelho-alaranjados e azuis-esverdeados além das cores purpúreas obtidas de plantas.
O pigmento vermelho obtido do cinábrio, do qual se descobriu o mercúrio e logo após a sua grande utilidade era conseguido depois do esmagamento dos seus torrões, lavagem e cozimento. No entanto, a cor conseguida era diferente em cada região que se extraía e com o tempo escurecia gradualmente se não fossem utilizadas técnicas para manter sua cor.
Cores artificiais eram obtidas a partir da transformação de outras cores e a parir de misturas de cores, como por exemplo, o negro-de-fumo, o indigo, o azul-cerúleo, o ocre-queimado, a cerussa, o azebre, o vermelhão e a púrpura.
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