Vitrúvio, neste penúltimo capítulo, preocupou-se em deixar escritas as regras de gnomônica. Mas antes de se compreender o que Vitrúvio escreve, é preciso saber que todos os estudos apresentados por ele são baseados na teoria geocêntrica, ou seja, em que se acredita que a Terra é e está no centro de todo o Universo. Não devemos, porém, descartar o estudo deste nono livro por este motivo. Pelo contrário, devemos nos preocupar em compreender o porquê os contemporâneos de Vitrúvio e ele próprio pensavam dessa maneira. Além das regras sobre a construção do gnômon, já mostradas anteriormente, Vitrúvio traz informações sobre astronomia, caracterizando cada uma das constelações conhecidas na sua época e fala ainda sobre horóscopos.
LIVRO IX
O conhecimento da astronomia e da gnomônica causam grande admiração de quem as observam, pois em cada cidade a sombra do gnômon no equinócio tem uma projeção diferente. Verificando-se assim que também os relógios são feitos com traçados diferentes dependendo do lugar. Partindo-se da teoria geocêntrica, para os doze signos do zodíaco era considerado um percurso através da abóbada celeste, assim como também eram definidos percursos para os planetas. Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno e o próprio Sol tinham suas órbitas definidas e, segundo estudos da época, eram todos considerados planetas que apenas diferiam pela grandeza de suas órbitas. Os movimentos de rotação e translação já eram estudados e entendidos como são atualmente. Vitrúvio inclusive compara a órbita da Lua com a do Sol, explicando que pelo motivo desses dois movimentos, o Sol faz um percurso de translação em doze meses ,enquanto a Lua faz o mesmo percurso a quantidade de trezes vezes no mesmo período.
Apesar de defenderem a teoria geocêntrica, já estudavam o que chamavam de "atração do Sol". "Assim como o calor chama e atrai a si todas as coisas - como vemos os frutos crescendo da terra pelo seu efeito, assim como os vapores de água elevados pelo arco-íris desde as fontes até as nuvens -, também do mesmo modo o violento ímpeto do Sol, com os raios estendidos numa configuração triangular, atrai para si os astros que o seguem..." Podemos perceber neste trecho que tal atração não era entendida como concêntrica, mas sim triangular e tinha relação com a definição das órbitas dos planetas e suas passagens por cada signo (constelações).
A ciência caldaica é citada por ter sido um caldeu o criador de teorias sobre a Lua. Beroso, o caldeu, afirmava que a Lua é uma esfera candente numa das suas metades, tendo na outra uma cor cerúlea e, quando encontra perpendicularmente os raios solares, toda a sua luz fica na sua face superior. Os caldeus também são conhecidos porque lhe é atribuída a invenção do horóscopo.
Existia o conhecimento de que a Lua não emite luz própria, mas sim reflete a luz do Sol. As fases da Lua eram classificadas de primeira até quarta e o ciclo lunar era considerado o mesmo conhecido atualmente, de vinte e sete dias e uma hora, ou seja, vinte e oito dias.
Em cada um dos meses o Sol, atravessando as constelações, aumenta e diminui a extensão dos dias. Para Vitrúvio tais diferenças no tamanho dos dias também interferiam nas horas, por isso tantas alterações nos relógios. Os equinócios e solstícios, como são chamadas estas variações, eram definidos a partir da movimentação do Sol, que errando em círculo pelos signos (constelações), faz aumentar ou diminuir, em tempos certos, os dias e as horas.
Para a construção dos relógios solares, respeitava-se o traçado da sombra equinocial de cada lugar. Daí a existência de relógios diferentes para cada cidade. Segue-se então o traçado da linha do horizonte, os diâmetros da parte do verão e da parte do inverno e o traçado do analema, que para nós pode ser entendido como a diferença entre os equinócios. A partir destes traçados foram desenvolvidos vários tipos de relógios, como os relógios de água, utilizando maquinas hidráulicas e a técnica de engrenagens; relógios que marcavam meses, dias e horas; relógios de inverno; relógios com a marcação dos signos em seu tambor imóvel. As tecnologias utilizadas em cada um deles está esplanada na íntegra no nono livro.
Uma parte interessantíssima do livro, que eu pulei propositalmente para deixá-la para o final, é a explicação do desenho de cada uma das constelações e breves explicações de como encontrá-las. Não irei explicá-las, mas sim colocá-las à visão do leitor para seu breve divertimento, e é claro, o meu também!
O estudo das constelações é estreito ao estudo da mitologia grega e, por isso, deixarei um link para os interessados em conhecer melhor as duas coisas. Pra quê dar um Ctrl + V aqui se as informações estão prontas em um site especializado?
FICADICA: Teknospace - Lendas Celestes
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