Oitavo livro. Falaremos agora das águas. Métodos para encontrá-la, como saber se é própria ou imprópria para o consumo. Como saber seu curso e melhores métodos para levá-la até as construções. Admito, é um livro muito interessante, pois às vezes não nos damos conta do quanto a água é essencial em nossas vidas.
LIVRO VIII
A água é de suma importância para nós, seres humanos e estará mais acessível se houver mananciais abertos e fluentes. No entanto, se isso não ocorrer, deve-se procurá-la nos lençóis subterrâneos. Vitrúvio, em sua época, nos dispôs dos ensinamentos que recebeu de seus mestres e, obviamente os métodos utilizados por ele hoje já não são utilizados. "A sondagem será feira, deitando-nos com o maxilar apoiado no chão, antes do nascer do Sol, nos sítios onde quer se encontrar água (...). Naqueles lugares onde se observarem evaporações ondulantes elevando-se nos ares, aí se escavará." Para a localização dos lençóis, cavava-se e colocava-se por volta do pôr-do-sol, um vaso de bronze untado com azeite e em posição invertida. Se no dia seguinte fossem observadas gotas no vaso, certificavam de que ali havia água.
As características geológicas também devem ser observadas, pois com efeito, modificam o sabor e a qualidade da água. Vitrúvio observou que na terra negra, por exemplo, as águas possuem ótimo gosto, assim como no cascalho, no saibro, na areia carbúnculo, em rochas vermelhas e em montes e penedias, apesar de algumas características serem diferentes pelo próprio lugar de onde são retiradas.
Algumas plantas indicam a presença de água, como o junco, o salgueiro e a cana, pois essas espécies necessitam de grande quantidade de água para sobreviverem. Todavia estas plantas costumam nascer em côncavos de rios e em covas nas planícies, as quais recebem a água das chuvas e as conserva por mais tempo. Sendo assim não se deve enganar e considerar apenas aquelas que não foram semeadas, mas nasceram por si mesmas, sem ser nas covas.
As águas das chuvas eram consideradas as mais limpas, por serem filtradas pela agitação do ar. Assim fala Vitrúvio, explicando pormenorizadamente a formação da chuva e o fenômeno em si, fazendo uma breve comparação com os vapores dos banhos e falando sobre a influência dos ventos nas águas.
Sobre os rios, Vitrúvio destaca o fato de sempre as nascentes de grandes rios se originarem ao norte de seus cursos, como o exemplo do rio Nilo, que tem sua nascente na Mauritânia.
Sobre as águas quentes, Vitrúvio diz não ter propriamente uma qualidade de água quente, mas a água pode ferver por aquecimento natural, como acontece nas fontes quentes. Toda fonte quente, porém, é medicinal, pois ao ser aquecida, recebe para os males físicos e mentais uma virtude nova. Por exemplo, fontes sulfurosas restauram as fadigas nervosas, já as fontes aluminosas curam os membros do corpo quando enfraquecem por paralisia e as fontes betuminosas costumam tratar dos males do interior do corpo, através de poções que o purificam. Há também águas frias medicinais, de tipo nitroso, que purifica o intestino, águas ácidas que dissolvem os cálculos da vesícula.
Há também, na classificação de Vitrúvio, as águas nocivas, que não apresentam suficiente limpidez e são usadas somente para lavagens e outros fins; e as águas betuminosas, que jorram impregnadas de óleo, não sendo assim saudáveis, mas utilizada para banhos e nado. Há também as águas amargas, que jorrando de um solo de amargosa seiva, adquirem este gosto, assim como os frutos, pois suas disparidades de sabor se devem à terra em que são cultivados. As águas mortíferas, que ao percorrerem terras com seivas maléficas, absorvem o seu veneno, não podendo, assim, serem consumidas. Vitrúvio cita ainda, águas ineriantes, que entorpecem como o vinho; águas que curam o alcoolismo; águas que tornam insensíveis aqueles que a bebem; águas que fazem cair os dentes; águas que melhoram a voz.
Vitrúvio fala ainda da água como elemento do nosso corpo e logo depois fala sobre o método para avaliar se uma água é boa. "Se onde ela nasce ou corre não nascer musgo nem junco, nem o sítio se encontrar inquinado por qualquer sujidade, mas tiver um aspecto limpo, pode-se deduzir desses sinais que a água é leve e da maior salubridade."
A seguir, fala sobre o nivelamento das condutas, do ajustamento do nível da água e algumas leis da física aplicadas a esses assuntos. Fala dos processos utilizados na adução, distribuição de água, escavação de galerias e o emprego de diferentes tipos de cano, evitando-se sempre canos de chumbo pois são nocivos e incentivando o uso de canos cerâmicos, pois apresentam vantagens. Seu último assunto, a construção das cisternas, fala sobre as vantagens das cisternas duplas e triplas.
Seria interessante se aprofundar nestes últimos assuntos citados, os quais se encontram na integra no próprio livro Tratado De Arquitetura, no oitavo livro. Resolvi não aprofundar cada assunto pois são excessivamente teóricos.
Este blog foi criado com o objetivo de compartilhar ideias e conhecimento com você, que costuma passar por aqui. Portanto, sinta-se à vontade para postar comentários e me ajudar a melhorar o conteúdo desta página. Aqui os posts sobre arquitetura e urbanismo predominarão, mas assuntos frequentes sobre história, música e fotografia poderão aparecer... E além disso, pretendo compartilhar algumas experiências em eventos acadêmicos, viagens e afins. Obrigada.
@jessicarossone
@jessicarossone
sexta-feira, 27 de maio de 2011
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Tratado De Architectura VII
No sétimo livro, este que tratarei agora, Vitrúvio fala dos acabamentos. Beleza e solidez aliadas para fazer com que os edifícios respeitassem seus partidos de comensurabilidade, euritmia e, neste caso, principalmente de decoro. Nos próximos livros tratará de questões sobre a água, gnomônica e sobre as máquinas, sendo então este, o último livro que tem ligação direta com a arquitetura como é estudada atualmente. O estudo das águas, da astronomia e das máquinas como foi feito nos livros oito, nove e dez será aqui somente esboçado, retirando-se apenas o que for de suma importância para o entendimento de como eram vistas e feitas as construções na Antiguidade Clássica.
LIVRO VII
Na preparação dos pavimentos, primeiro assunto abordado por Vitrúvio, ele ressalta que para este tipo de revestimento a argamassa era a que ocupava o primeiro lugar, de modo a haver maior preocupação com a solidez. Primeiro era verificado se o solo se encontrava todo compacto e só então era nivelado e espalhado o cascalho (pedras miúdas). Se por acaso o solo não for de seu todo sólido, será batido cuidadosamente com maços até que se torne. Depois, construíam-se os tabulados que sustentam os pavimentos, levando-se em conta a preferência por madeira de carvalho-ésculo. Em cima, era espalhado um leito de pedras médias para receber o cascalho argamassado, também compactado com batimentos contínuos. Após a compactação era aplicado um núcleo de três partes de tijolo cozido moído para uma de cal e só depois de colocado esse núcleo, eram dispostos os pavimentos em placas ou em mosaico. Depois de dispostos, os pavimentos eram polidos, de modo que não demonstrassem desnivelamentos, e recebiam pó de mármore e uma camada protetora de cal e areia. Para construções ao ar livre eram necessários reforços, tendo em vista que nos madeiramentos se originariam falhas ao longo do tempo.
Para o revestimento de lacunários, a madeira da parte superior do teto deveria ser revestida por uma mistura de areia e cal, a fim de que, se caíssem algumas gotas de água dos telhados elas ficassem ali cingidas. Dispostas e entrelaçadas as cofragens e rebocado o seu interior, juntava-se areia, completando com greda ou mármore.
No acabamento das paredes, completadas as cornijas, o reboco deveria ser o mais áspero possível, para que sobre eles fossem passadas algumas demãos de areia até atingir o nivelamento. Secando, lançava-se mais duas camadas para que a mistura de cal e areia fosse o mais compacta possível, só assim resistiria ao tempo. O uso do pó de mármore era feitos após todos os processos mencionados acima.
Depois de feitas todas as camadas e passado o pó de mármore, a técnica do fresco permitia que depois de pintadas as paredes difundissem nítidos esplendores, devido ao material usado no acabamento, no caso o mármore.
Em lugares úmidos, a preparação de rebocos deveria prosseguir diferente da anterior. Em primeiro lugar, ao invés da areia era utilizada cerâmica de construção moída. Se alguma parede se apresentasse de todo umidecida, levantava-se outra menos espessa e um pouco mais à frente. A parede deveria ser revestida e consolidada também com cerâmica de construção moída e só então era feito o revestimento.
As tipologias decorativas deveriam estar de acordo com a conveniência e não mostrarem-se alheias aos diferentes estilos, por isso os pavimentos e os revestimentos deveriam ser de acordo com o ambiente e com as atividades ali realizadas.
Em princípios instituídos pelos antigos a pintura apresentava imagens e imitações das figuras dos edifícios, além de lugares ao ar livre como litorais, rios e fontes. No entanto, na contemporaneidade de Vitrúvio esses princípios já não eram mais utilizados e inclusive eram considerados de mau gosto.
Depois instituídos os principais modos de revestimento utilizados na sua época, Vitrúvio se preocupa em explicar os materiais utilizados e como eles eram conseguidos e fabricados.
O pó de mármore não surgia com as mesmas características em todos os lugares. Em alguns lugares eram conseguidos em blocos utilizando grãos translúcidos como sal. Em outros, lascas desperdiçadas eram moídas e passadas ao crivo nas obras. Em outros locais o pó já era encontrado pronto, sendo até mais fino do que o feito à mão. No que se refere à cor, algumas surgiam espontaneamente e outras eram conseguidas a partir de outros elementos, através de certos processos ou misturas.
Pigmentos naturais eram e são encontrados em muitos lugares e em várias cores. Eram obtidos a partir da escavação de terras pigmentos vermelhos, brancos, verdes, vermelho-alaranjados e azuis-esverdeados além das cores purpúreas obtidas de plantas.
O pigmento vermelho obtido do cinábrio, do qual se descobriu o mercúrio e logo após a sua grande utilidade era conseguido depois do esmagamento dos seus torrões, lavagem e cozimento. No entanto, a cor conseguida era diferente em cada região que se extraía e com o tempo escurecia gradualmente se não fossem utilizadas técnicas para manter sua cor.
Cores artificiais eram obtidas a partir da transformação de outras cores e a parir de misturas de cores, como por exemplo, o negro-de-fumo, o indigo, o azul-cerúleo, o ocre-queimado, a cerussa, o azebre, o vermelhão e a púrpura.
LIVRO VII
Na preparação dos pavimentos, primeiro assunto abordado por Vitrúvio, ele ressalta que para este tipo de revestimento a argamassa era a que ocupava o primeiro lugar, de modo a haver maior preocupação com a solidez. Primeiro era verificado se o solo se encontrava todo compacto e só então era nivelado e espalhado o cascalho (pedras miúdas). Se por acaso o solo não for de seu todo sólido, será batido cuidadosamente com maços até que se torne. Depois, construíam-se os tabulados que sustentam os pavimentos, levando-se em conta a preferência por madeira de carvalho-ésculo. Em cima, era espalhado um leito de pedras médias para receber o cascalho argamassado, também compactado com batimentos contínuos. Após a compactação era aplicado um núcleo de três partes de tijolo cozido moído para uma de cal e só depois de colocado esse núcleo, eram dispostos os pavimentos em placas ou em mosaico. Depois de dispostos, os pavimentos eram polidos, de modo que não demonstrassem desnivelamentos, e recebiam pó de mármore e uma camada protetora de cal e areia. Para construções ao ar livre eram necessários reforços, tendo em vista que nos madeiramentos se originariam falhas ao longo do tempo.
Para o revestimento de lacunários, a madeira da parte superior do teto deveria ser revestida por uma mistura de areia e cal, a fim de que, se caíssem algumas gotas de água dos telhados elas ficassem ali cingidas. Dispostas e entrelaçadas as cofragens e rebocado o seu interior, juntava-se areia, completando com greda ou mármore.
No acabamento das paredes, completadas as cornijas, o reboco deveria ser o mais áspero possível, para que sobre eles fossem passadas algumas demãos de areia até atingir o nivelamento. Secando, lançava-se mais duas camadas para que a mistura de cal e areia fosse o mais compacta possível, só assim resistiria ao tempo. O uso do pó de mármore era feitos após todos os processos mencionados acima.
Depois de feitas todas as camadas e passado o pó de mármore, a técnica do fresco permitia que depois de pintadas as paredes difundissem nítidos esplendores, devido ao material usado no acabamento, no caso o mármore.
Em lugares úmidos, a preparação de rebocos deveria prosseguir diferente da anterior. Em primeiro lugar, ao invés da areia era utilizada cerâmica de construção moída. Se alguma parede se apresentasse de todo umidecida, levantava-se outra menos espessa e um pouco mais à frente. A parede deveria ser revestida e consolidada também com cerâmica de construção moída e só então era feito o revestimento.
As tipologias decorativas deveriam estar de acordo com a conveniência e não mostrarem-se alheias aos diferentes estilos, por isso os pavimentos e os revestimentos deveriam ser de acordo com o ambiente e com as atividades ali realizadas.
Em princípios instituídos pelos antigos a pintura apresentava imagens e imitações das figuras dos edifícios, além de lugares ao ar livre como litorais, rios e fontes. No entanto, na contemporaneidade de Vitrúvio esses princípios já não eram mais utilizados e inclusive eram considerados de mau gosto.
Depois instituídos os principais modos de revestimento utilizados na sua época, Vitrúvio se preocupa em explicar os materiais utilizados e como eles eram conseguidos e fabricados.
O pó de mármore não surgia com as mesmas características em todos os lugares. Em alguns lugares eram conseguidos em blocos utilizando grãos translúcidos como sal. Em outros, lascas desperdiçadas eram moídas e passadas ao crivo nas obras. Em outros locais o pó já era encontrado pronto, sendo até mais fino do que o feito à mão. No que se refere à cor, algumas surgiam espontaneamente e outras eram conseguidas a partir de outros elementos, através de certos processos ou misturas.
Pigmentos naturais eram e são encontrados em muitos lugares e em várias cores. Eram obtidos a partir da escavação de terras pigmentos vermelhos, brancos, verdes, vermelho-alaranjados e azuis-esverdeados além das cores purpúreas obtidas de plantas.
O pigmento vermelho obtido do cinábrio, do qual se descobriu o mercúrio e logo após a sua grande utilidade era conseguido depois do esmagamento dos seus torrões, lavagem e cozimento. No entanto, a cor conseguida era diferente em cada região que se extraía e com o tempo escurecia gradualmente se não fossem utilizadas técnicas para manter sua cor.
Cores artificiais eram obtidas a partir da transformação de outras cores e a parir de misturas de cores, como por exemplo, o negro-de-fumo, o indigo, o azul-cerúleo, o ocre-queimado, a cerussa, o azebre, o vermelhão e a púrpura.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Tratado De Architectura VI
Neste sexto livro, Vitrúvio trata basicamente dos edifícios privados. Mas faz uma introdução um tanto quanto longa e precisa. Fala sobre o valor do conhecimento, a importância da educação e a honestidade do arquiteto. "A educação, conjugada com a força do ânimo, jamais se extingue, antes permanece estável até o fim da vida." São realmente questões envolvidas quando pensamos em um projeto privado, pois para o privado as regras são exponencialmente menores e a liberdade de criação maior. Logo, a arquitetura privada exige, acima de tudo, a honestidade do profissional. "mais vale ser solicitado do que importunar, porque um semblante honesto cora de vergonha quando pede algo duvidoso. Com efeito, os que dão o benefício é que são solicitados, não os que recebem."
LIVRO VI
Os edifícios privados deveriam estar adaptados ao ambiente geográfico e as várias tipologias de edificações deveriam ser levantadas de maneiras diferentes em cada lugar. Nas regiões setentrionais, por exemplo, era conveniente que os edifícios fossem construídos abobadados, resguardados ao máximo, e não expostos, voltados para as áreas mais quentes. Para Virúvio, o ambiente geográfico influencia no aspecto físico e inclusive na voz das pessoas, influenciando assim, também nas edificações. Os povos do norte, onde as regiões são frias e há bastante umidade, têm grande porte físico, cores brancas, cabelo liso e ruivo, olhos esverdeados e "muito sangue". Já os povos do sul, que se encontram mais próximos do meridiano e sujeitos ao curso do Sol, têm corpos pequenos, cor escura, cabelo crespo, olhos negros, pernas vigorosas e "pouco sangue". A relação da voz com a umidade se explica da seguinte forma: os sons se tornam mais graves a partir dos locais úmidos da natureza e mais agudos a partir dos quentes. Vitrúvio ainda fala sobre a conquista do Império Romano e sua relação com a localização geográfica, que para ele, Roma era o "centro do mundo" e por isso, seus habitantes possuíam uma dose equilibrada de inteligência e força. Na verdade, é conveniente que os edifícios sejam dispostos de acordo com as características das nações. Tratava-se de um pensamento primitivo de sociedade e arquitetura e suas relações.
Uma vez constituído o sistema de medidas e esplanadas as modulações, a realização do edifício deveria levar em conta a natureza, no que diz respeito ao uso e ao aspecto exterior. Para o arquiteto, o edifício surge com diferentes visões, ele tem diferentes aparências se observado de perto ou de longe, ou de um ambiente fechado, por exemplo. Por isso, não se deve ter dúvidas se for necessário fazer cortes ou aumentos, conforme a natureza do lugar, mas deve-se lembrar de, em primeiro lugar, estabelecer-se o sistema de medidas, ter em vista o decoro para que a visão da euritmia não seja duvidosa para os observadores.
Eram cinco os tipos de átrios para as casas urbanas: toscano; coríntio, com mais de quatro colunas; tetrastilo, com quatro colunas; displuviado, em que a inclinação do telhado se encontra direcionada para o exterior e não para o interior do átrio; e o testudinado, que era coberto. Proporcionais ao tamanho do átrio, colocam-se as alas, o tablino, as portas, as fauces e o complúvio. Os peristilos deveriam ser dispostos transversalmente um terço mais longos do que largos. As colunas serão tão altas quanto a largura dos pórticos e dos peristilos.
Os triclínios (salas de refeição) deveriam ter de comprimento o dobro da sua largura; as pinacotecas e as salas deveriam ser amplas. As salas cizicenas deveriam apresentar aberturas de janelas duplas, de modo que os jardins pudessem ser vistos.
As partes privadas da casa deveriam ser compartimentadas de acordo com normas, como no caso dos cubículos, triclínios, banhos e outros com a mesma funcionalidade. As partes comuns deveriam ser de fácil acesso, como os vestíbulos, os átrios, os peristilos e outros espaços com mesmo uso.
A casa deveria ser apropriada à função e estatuto do proprietário, por exemplo, as casas dos capitalistas e publicanos deveriam ser mais funcionais, pomposas e protegidas em relação a assaltos.
Nas construções rurais, as vilas deveriam ser construídas tendo em conta a exposição solar, principalmente por causa das plantações e dos animais. Vitrúvio também fala da colocação dos banhos, adegas, lagares, celeiros, currais e cavalariças e manjedouras.
Vitrúvio compara a colocação de iluminação natural nas vilas e nas casas urbanas. Nas primeiras considera mais facilidade do que nas segundas por causa da proximidade dos muros.
Em seguida, faz como fez no livro anterior, e fala sobre os edifícios privados gregos. Destaca na casa grega o gineceu, parte da casa destinada às mulheres e à família; o ândron, parte da casa destinada aos homens; as instalações dos hóspedes; e por fim faz uma comparação com a casa romana.
No capítulo seguinte fala sobre a solidez dos edifícios, com soluções parecidas e às vezes iguais às mencionadas nos livros anteriores.
Relação proprietário-artista-arquiteto
"Não está nas mãos do arquiteto definir quais os gêneros de materiais que convém utilizar, porque não se produzem todos os tipos de materiais em todos os lugares."
Atualmente, está sim, nas mãos do arquiteto a escolha de materiais, incluindo pesquisas para saber o custo, a qualidade e a oferta de todos os produtos; além disso, o arquiteto deve estar sempre atualizado pois o mercado de materiais se expande a cada dia com a descoberta de novas tecnologias.
Diferença entre o leigo e o arquiteto
"O leigo não pode saber o que vai ser realizado, a não ser quando o vir concluído, ao passo que o arquiteto já tem definido na sua mente, antes de iniciar a obra, como será construída em termos de beleza, funcionalidade e conveniência."
A fim de diminuir tais diferenças, os arquitetos usam de artifícios gráficos para demonstrar aos clientes as ideias que tiveram. Tais artifícios podem ser de croquis até desenhos feitos em computador, utilizando tecnologias avançadas que permitem criar ambientes muito parecidos com os reais.
LIVRO VI
Os edifícios privados deveriam estar adaptados ao ambiente geográfico e as várias tipologias de edificações deveriam ser levantadas de maneiras diferentes em cada lugar. Nas regiões setentrionais, por exemplo, era conveniente que os edifícios fossem construídos abobadados, resguardados ao máximo, e não expostos, voltados para as áreas mais quentes. Para Virúvio, o ambiente geográfico influencia no aspecto físico e inclusive na voz das pessoas, influenciando assim, também nas edificações. Os povos do norte, onde as regiões são frias e há bastante umidade, têm grande porte físico, cores brancas, cabelo liso e ruivo, olhos esverdeados e "muito sangue". Já os povos do sul, que se encontram mais próximos do meridiano e sujeitos ao curso do Sol, têm corpos pequenos, cor escura, cabelo crespo, olhos negros, pernas vigorosas e "pouco sangue". A relação da voz com a umidade se explica da seguinte forma: os sons se tornam mais graves a partir dos locais úmidos da natureza e mais agudos a partir dos quentes. Vitrúvio ainda fala sobre a conquista do Império Romano e sua relação com a localização geográfica, que para ele, Roma era o "centro do mundo" e por isso, seus habitantes possuíam uma dose equilibrada de inteligência e força. Na verdade, é conveniente que os edifícios sejam dispostos de acordo com as características das nações. Tratava-se de um pensamento primitivo de sociedade e arquitetura e suas relações.
Uma vez constituído o sistema de medidas e esplanadas as modulações, a realização do edifício deveria levar em conta a natureza, no que diz respeito ao uso e ao aspecto exterior. Para o arquiteto, o edifício surge com diferentes visões, ele tem diferentes aparências se observado de perto ou de longe, ou de um ambiente fechado, por exemplo. Por isso, não se deve ter dúvidas se for necessário fazer cortes ou aumentos, conforme a natureza do lugar, mas deve-se lembrar de, em primeiro lugar, estabelecer-se o sistema de medidas, ter em vista o decoro para que a visão da euritmia não seja duvidosa para os observadores.
Eram cinco os tipos de átrios para as casas urbanas: toscano; coríntio, com mais de quatro colunas; tetrastilo, com quatro colunas; displuviado, em que a inclinação do telhado se encontra direcionada para o exterior e não para o interior do átrio; e o testudinado, que era coberto. Proporcionais ao tamanho do átrio, colocam-se as alas, o tablino, as portas, as fauces e o complúvio. Os peristilos deveriam ser dispostos transversalmente um terço mais longos do que largos. As colunas serão tão altas quanto a largura dos pórticos e dos peristilos.
Os triclínios (salas de refeição) deveriam ter de comprimento o dobro da sua largura; as pinacotecas e as salas deveriam ser amplas. As salas cizicenas deveriam apresentar aberturas de janelas duplas, de modo que os jardins pudessem ser vistos.
As partes privadas da casa deveriam ser compartimentadas de acordo com normas, como no caso dos cubículos, triclínios, banhos e outros com a mesma funcionalidade. As partes comuns deveriam ser de fácil acesso, como os vestíbulos, os átrios, os peristilos e outros espaços com mesmo uso.
A casa deveria ser apropriada à função e estatuto do proprietário, por exemplo, as casas dos capitalistas e publicanos deveriam ser mais funcionais, pomposas e protegidas em relação a assaltos.
Nas construções rurais, as vilas deveriam ser construídas tendo em conta a exposição solar, principalmente por causa das plantações e dos animais. Vitrúvio também fala da colocação dos banhos, adegas, lagares, celeiros, currais e cavalariças e manjedouras.
Vitrúvio compara a colocação de iluminação natural nas vilas e nas casas urbanas. Nas primeiras considera mais facilidade do que nas segundas por causa da proximidade dos muros.
Em seguida, faz como fez no livro anterior, e fala sobre os edifícios privados gregos. Destaca na casa grega o gineceu, parte da casa destinada às mulheres e à família; o ândron, parte da casa destinada aos homens; as instalações dos hóspedes; e por fim faz uma comparação com a casa romana.
No capítulo seguinte fala sobre a solidez dos edifícios, com soluções parecidas e às vezes iguais às mencionadas nos livros anteriores.
Relação proprietário-artista-arquiteto
"Não está nas mãos do arquiteto definir quais os gêneros de materiais que convém utilizar, porque não se produzem todos os tipos de materiais em todos os lugares."
Atualmente, está sim, nas mãos do arquiteto a escolha de materiais, incluindo pesquisas para saber o custo, a qualidade e a oferta de todos os produtos; além disso, o arquiteto deve estar sempre atualizado pois o mercado de materiais se expande a cada dia com a descoberta de novas tecnologias.
Diferença entre o leigo e o arquiteto
"O leigo não pode saber o que vai ser realizado, a não ser quando o vir concluído, ao passo que o arquiteto já tem definido na sua mente, antes de iniciar a obra, como será construída em termos de beleza, funcionalidade e conveniência."
A fim de diminuir tais diferenças, os arquitetos usam de artifícios gráficos para demonstrar aos clientes as ideias que tiveram. Tais artifícios podem ser de croquis até desenhos feitos em computador, utilizando tecnologias avançadas que permitem criar ambientes muito parecidos com os reais.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Tratado De Architectura V
Neste quinto livro, quis Vitruvio falar essencialmente de obras públicas e o que desrespeito às suas utilidades. Pensei que os dois últimos livros fossem ser os mais interessantes para mim, mas vejo que me enganei, pois os comentários a respeito da música, no capítulo sobre a construção dos teatros, me conquistaram muito mais do que os livros dedicados aos templos.
LIVRO V
Primeiramente, Vitrúvio trata dos foros e as diferenças entre os da Grécia comparados com os de Roma. Na Grécia, os foros eram dispostos em quadrados com pórticos duplos e colunas cerradas, mas em Roma não deveriam ser feitos desse modo, pois a sua utilização era diferente, visto que se realizavam jogos de gladiadores nestes locais. As dimensões deveriam levar em conta a quantidade de habitantes, a fim de que não parecesse nem pequeno nem largo demais para a população, e a sua planta deveria ser feita de modo oblongo, sendo assim a sua disposição útil para a realização de espetáculos. As colunas superiores deveriam ser a quarta parte menores que as inferiores, para que pudessem ser suportadas. Para o melhor entendimento, faz um paralelo com a estrutura das árvores: "Se a natureza dispõe assim com as plantas, será igualmente lógico que o que está por cima deverá ser mais diminuído em altura e em espessura do que o que está embaixo."
As basílicas deveriam estar em locais juntos aos foros e nas partes mais quentes, para que no inverno os comerciantes não sejam incomodados devido ao mau tempo. As colunas deveriam ter uma altura igual à largura dos pórticos e o parapeitos entre as colunas superiores e inferiores não poderiam ter menos de um quarto que a altura das primeiras, para que os que passasem não fossem vistos pelos comerciantes. Espitílios, frisos e cornijas acompanhariam as proporções das colunas. A nave coberta central deveria contar com cento e vinte pés de comprimento por sessenta de largura. O tribunal também se encontrava nas basílicas, porém num espaço mais reservado. Para Vitrúvio, resultaria num resultado agradável a dupla exposição dos telhados, a alta nave interior, além das próprias colunas subindo uniformemente em altura até o travejamento desta, acrescentando suntuosidade e grandeza à obra.
O erário, o cárcere e a cúria deveriam estar ligados ao foro e serem proporcionais a este. A cúria, construída de acordo com a dignidade do município, deveria ter suas paredes circundadas por cornijas de madeira, de modo que a voz dos que participavam dos debates fosse entendida pelos ouvintes.
Para o teatro deveria ser escolhido o lugar mais saudável possível, que evitasse a exposição excessiva ao sol. A construção nos montes era a mais indicada, mas se houvesse a necessidade de se construir em locais planos, alicerces e fundações semelhantes as dos templos deveriam ser feitos. Sobre os fundamentos e a partir dos muros intermediários deveriam ser colocados os degraus ou assentos. Os muretes deveriam ser distribuídos proporcionalmente à altura dos teatros, para que a voz não fosse impedida. Além de todos estes cuidados, obviamente o local deveria possuir boa acústica, ou seja, não deveria haver ressonância. "Pois a voz é como um sopro flutuante do ar que ser torna in actu sensível ao ouvido. Move-se através de infinitos círculos concêntricos, como se, lançada uma pedra na água imóvel, nascessem das ondas inumeráveis círculos aumentando a partir do centro, máximo possível, e espalhando-se, a não ser que o impeça a estreiteza do lugar ou outro obstáculo que não deixe os traçados daquelas ondas encontrarem uma saída. (...) Do mesmo modo, assim se movimenta a voz em círculos, mas se na água estes se movem planamente, a voz progride em amplitude e sobe gradualmente em altura."
Percebendo a necessidade de explicações maiores sobre a música para seus leitores, Vitrúvio reserva o capítulo quatro de seu livro para esplanar qualquer dúvida sobre harmonia, modulações musicais, tons e semitons, escalas e acordes. Para explicar sobre o tema, Vitrúvio se baseia nos escritos de Aristoxeno e dispõe em seu livro um diagrama feito pelo próprio Aristoxeno. Infelizmente este diagrama e nenhum dos desenhos de Vitrúvio jamais foram encontrados.
Voz contínua, voz descontínua
De acordo com suas transformações, a voz ora se torna aguda, ora se torna grave. E transforma-se de duas maneiras, quer de modo contínuo, quer de modo descontínuo. A voz contínua não se interrompe nas pausas nem em outras circusntâncias, sendo as interrupções imperceptíveis e mal se notando os intervalos. No modo descontínuo, verifica-se o contrário, há uma contínua modulação que se torna constante ao sentido da audição, como acontece nas canções, e assim, há uma flexão de voz que fica obscurecida pelos intervalos.
As modulações harmônica, cromática e diatônica
São três gêneros de modulações. A modulação harmônica é concebida como arte. A cromática provoca um deleite mais suave, pela frequência das variações. A diatônica é a mais fácil, graças à distância dos intervalos. Nas três modulações são diferentes as disposições dos tetracórdios, apesar de nas três eles serem compostos de dois tons e um semitom. No entanto, em escalas isoladas, os intervalos são dispostos de modo diferente.
Nomes gregos dos sons
Os sons, para os gregos eram dezoito por gênero, dos quais oito pertenciam continuamente a três espécies e o restante eram sujeitos a modulação. Os oito primeiros eram designados desde "Gravíssimo" ate "O último dos agudos". Os dez sons que se movem dão origem a uma tríplice variedade de modulações, por causa das transferências das escalas.
Os tetracórdios
Os tetracórdios são cinco: o primeiro é o mais grave, denominado em grego hypaton. O segundo, que é o do meio, é chamado meson. O terceiro é conexo, porque se diz synhemmenon. O quarto é desconexo, chamado diezeugmenon. O quinto, o mais agudo, é chamado hyperbolaeon.
Os acordes
Os acordes, que em grego se chamam symphoniae, são seis. São formados pela conjugação dos sons.
Feitas as apresentações dos termos musicais e introduzido o assunto, Vitrúvio fala sobre o uso destes conhecimentos para a colocação das caixas de ressonância no teatro.
Utilizando-se de cálculos matemáticos, deveriam ser contruídos vasos de bronze proporcionalmente à grandeza do teatro. Deveriam ser fabricados de modo que, se tocados, produzissem todos os sons entre si. em seguida, deveriam ser construídas celas entre os assentos, onde os vasos seriam colocados segundo uma disposição musical. A distribuição das caixas de ressonância nos teatros maiores seria feira segundo a escala harmônica. Os teatros menores, de madeira, tinham vários entablamentos que por si só ressoavam, não necessitando, assim, do artifício dos vasos de bronze. Em algumas cidades pequenas da época, arquitetos e engenheiros utilizaram também vasos de cerâmica, conseguindo ótimos efeitos. Para uma boa acústica os lugares consonantes eram considerados ideais para Vitruvio, pois nestes lugares, a voz auxiliada desde baixo e subindo, tomando progressivamente o corpo, atinge os ouvidos bem articulada na clareza das palavras.
A planta do teatro deveria ser elaborada a partir do perímetro da base, por onde seria traçada uma linha circular a partir do centro e se inscreveriam quatro triângulos de lados iguais. Desses triângulos, aquele cujo lado estiver mais próximo da cena determinará o lugar da fronte da cena. Desse modo o palco seria mais amplo do que aqueles dos teatros gregos.
Para Vitrúvio, era evidente que nem todos os teatros, talvez a maioria deles, não pudesse corresponder a todas as regras, mas era imprescindível que o arquiteto considerasse as proporções que eram necessárias seguir para alcançar a comensurabilidade e como adaptá-las à natureza do local ou às dimensões da obra. A seguir, ele ainda fala dos pórticos atrás do teatro e que estes deveriam ser duplos. Sobre as colunas, explica que deveriam apresentar simplicidade, ao contrário das dos templos. Fala também sobre os jardins e passeios descobertos e sua importância por serem lugares altamente salubres. Ainda trata dos banhos, das palestras e dos portos, aprofundando em cada um desses assuntos e mostrando sua preocupação em deixar claras algumas regras.
Nestas palavras encontramos a confirmação de que a preocupação com a salubridade das cidades existia nesta época, e mais, percebemos que os conceitos utilizados por Vitrúvio estariam presentes, mais tarde, em muitos planos de cidade elaborados no século XIX e XX.
"...penso não haver qualquer dúvida na conveniência que há em construir nas cidades passeios descobertos, a céu aberto, amplos nas suas dimensões e com muitos espaços verdes."
LIVRO V
Primeiramente, Vitrúvio trata dos foros e as diferenças entre os da Grécia comparados com os de Roma. Na Grécia, os foros eram dispostos em quadrados com pórticos duplos e colunas cerradas, mas em Roma não deveriam ser feitos desse modo, pois a sua utilização era diferente, visto que se realizavam jogos de gladiadores nestes locais. As dimensões deveriam levar em conta a quantidade de habitantes, a fim de que não parecesse nem pequeno nem largo demais para a população, e a sua planta deveria ser feita de modo oblongo, sendo assim a sua disposição útil para a realização de espetáculos. As colunas superiores deveriam ser a quarta parte menores que as inferiores, para que pudessem ser suportadas. Para o melhor entendimento, faz um paralelo com a estrutura das árvores: "Se a natureza dispõe assim com as plantas, será igualmente lógico que o que está por cima deverá ser mais diminuído em altura e em espessura do que o que está embaixo."
As basílicas deveriam estar em locais juntos aos foros e nas partes mais quentes, para que no inverno os comerciantes não sejam incomodados devido ao mau tempo. As colunas deveriam ter uma altura igual à largura dos pórticos e o parapeitos entre as colunas superiores e inferiores não poderiam ter menos de um quarto que a altura das primeiras, para que os que passasem não fossem vistos pelos comerciantes. Espitílios, frisos e cornijas acompanhariam as proporções das colunas. A nave coberta central deveria contar com cento e vinte pés de comprimento por sessenta de largura. O tribunal também se encontrava nas basílicas, porém num espaço mais reservado. Para Vitrúvio, resultaria num resultado agradável a dupla exposição dos telhados, a alta nave interior, além das próprias colunas subindo uniformemente em altura até o travejamento desta, acrescentando suntuosidade e grandeza à obra.
O erário, o cárcere e a cúria deveriam estar ligados ao foro e serem proporcionais a este. A cúria, construída de acordo com a dignidade do município, deveria ter suas paredes circundadas por cornijas de madeira, de modo que a voz dos que participavam dos debates fosse entendida pelos ouvintes.
Para o teatro deveria ser escolhido o lugar mais saudável possível, que evitasse a exposição excessiva ao sol. A construção nos montes era a mais indicada, mas se houvesse a necessidade de se construir em locais planos, alicerces e fundações semelhantes as dos templos deveriam ser feitos. Sobre os fundamentos e a partir dos muros intermediários deveriam ser colocados os degraus ou assentos. Os muretes deveriam ser distribuídos proporcionalmente à altura dos teatros, para que a voz não fosse impedida. Além de todos estes cuidados, obviamente o local deveria possuir boa acústica, ou seja, não deveria haver ressonância. "Pois a voz é como um sopro flutuante do ar que ser torna in actu sensível ao ouvido. Move-se através de infinitos círculos concêntricos, como se, lançada uma pedra na água imóvel, nascessem das ondas inumeráveis círculos aumentando a partir do centro, máximo possível, e espalhando-se, a não ser que o impeça a estreiteza do lugar ou outro obstáculo que não deixe os traçados daquelas ondas encontrarem uma saída. (...) Do mesmo modo, assim se movimenta a voz em círculos, mas se na água estes se movem planamente, a voz progride em amplitude e sobe gradualmente em altura."
Percebendo a necessidade de explicações maiores sobre a música para seus leitores, Vitrúvio reserva o capítulo quatro de seu livro para esplanar qualquer dúvida sobre harmonia, modulações musicais, tons e semitons, escalas e acordes. Para explicar sobre o tema, Vitrúvio se baseia nos escritos de Aristoxeno e dispõe em seu livro um diagrama feito pelo próprio Aristoxeno. Infelizmente este diagrama e nenhum dos desenhos de Vitrúvio jamais foram encontrados.
Voz contínua, voz descontínua
De acordo com suas transformações, a voz ora se torna aguda, ora se torna grave. E transforma-se de duas maneiras, quer de modo contínuo, quer de modo descontínuo. A voz contínua não se interrompe nas pausas nem em outras circusntâncias, sendo as interrupções imperceptíveis e mal se notando os intervalos. No modo descontínuo, verifica-se o contrário, há uma contínua modulação que se torna constante ao sentido da audição, como acontece nas canções, e assim, há uma flexão de voz que fica obscurecida pelos intervalos.
As modulações harmônica, cromática e diatônica
São três gêneros de modulações. A modulação harmônica é concebida como arte. A cromática provoca um deleite mais suave, pela frequência das variações. A diatônica é a mais fácil, graças à distância dos intervalos. Nas três modulações são diferentes as disposições dos tetracórdios, apesar de nas três eles serem compostos de dois tons e um semitom. No entanto, em escalas isoladas, os intervalos são dispostos de modo diferente.
Nomes gregos dos sons
Os sons, para os gregos eram dezoito por gênero, dos quais oito pertenciam continuamente a três espécies e o restante eram sujeitos a modulação. Os oito primeiros eram designados desde "Gravíssimo" ate "O último dos agudos". Os dez sons que se movem dão origem a uma tríplice variedade de modulações, por causa das transferências das escalas.
Os tetracórdios
Os tetracórdios são cinco: o primeiro é o mais grave, denominado em grego hypaton. O segundo, que é o do meio, é chamado meson. O terceiro é conexo, porque se diz synhemmenon. O quarto é desconexo, chamado diezeugmenon. O quinto, o mais agudo, é chamado hyperbolaeon.
Os acordes
Os acordes, que em grego se chamam symphoniae, são seis. São formados pela conjugação dos sons.
Feitas as apresentações dos termos musicais e introduzido o assunto, Vitrúvio fala sobre o uso destes conhecimentos para a colocação das caixas de ressonância no teatro.
Utilizando-se de cálculos matemáticos, deveriam ser contruídos vasos de bronze proporcionalmente à grandeza do teatro. Deveriam ser fabricados de modo que, se tocados, produzissem todos os sons entre si. em seguida, deveriam ser construídas celas entre os assentos, onde os vasos seriam colocados segundo uma disposição musical. A distribuição das caixas de ressonância nos teatros maiores seria feira segundo a escala harmônica. Os teatros menores, de madeira, tinham vários entablamentos que por si só ressoavam, não necessitando, assim, do artifício dos vasos de bronze. Em algumas cidades pequenas da época, arquitetos e engenheiros utilizaram também vasos de cerâmica, conseguindo ótimos efeitos. Para uma boa acústica os lugares consonantes eram considerados ideais para Vitruvio, pois nestes lugares, a voz auxiliada desde baixo e subindo, tomando progressivamente o corpo, atinge os ouvidos bem articulada na clareza das palavras.
A planta do teatro deveria ser elaborada a partir do perímetro da base, por onde seria traçada uma linha circular a partir do centro e se inscreveriam quatro triângulos de lados iguais. Desses triângulos, aquele cujo lado estiver mais próximo da cena determinará o lugar da fronte da cena. Desse modo o palco seria mais amplo do que aqueles dos teatros gregos.
Para Vitrúvio, era evidente que nem todos os teatros, talvez a maioria deles, não pudesse corresponder a todas as regras, mas era imprescindível que o arquiteto considerasse as proporções que eram necessárias seguir para alcançar a comensurabilidade e como adaptá-las à natureza do local ou às dimensões da obra. A seguir, ele ainda fala dos pórticos atrás do teatro e que estes deveriam ser duplos. Sobre as colunas, explica que deveriam apresentar simplicidade, ao contrário das dos templos. Fala também sobre os jardins e passeios descobertos e sua importância por serem lugares altamente salubres. Ainda trata dos banhos, das palestras e dos portos, aprofundando em cada um desses assuntos e mostrando sua preocupação em deixar claras algumas regras.
Nestas palavras encontramos a confirmação de que a preocupação com a salubridade das cidades existia nesta época, e mais, percebemos que os conceitos utilizados por Vitrúvio estariam presentes, mais tarde, em muitos planos de cidade elaborados no século XIX e XX.
"...penso não haver qualquer dúvida na conveniência que há em construir nas cidades passeios descobertos, a céu aberto, amplos nas suas dimensões e com muitos espaços verdes."
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